quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

E esses barulhinhos aí, é arte ?

Como sempre começam meus textos, e continuaram começando, uma amiga minha uma vez me disse " Eu nem gosto dessa poha, man, pra mim nem é música...". Agora, eu por meio deste pretendo por abaixo a frase, só de sacanagem, e do jeitinho que ela gosta...

A expressão até hoje que mais me empolga quando falam de um som, é bem expressa contra quase todas as manifestações feitas contra a música eletrônica ( sim é disso que nós estamos falando, vcs já sabiam ) a expressão é a seguinte: "Louco ou de cara". A gente pergunta pra alguém, e aí o sonzinho é bom, se ele vira e diz "louco ou de cara" é pq o som é efetivamente BOM.

A coisa mais linda sobre isso é a seguinte. A pessoa que se vale de tal expressão, não sabe, ou às vezes sabe o que é parte do que ele ouviu é aí que entra a beleza da coisa, por que em uma rave, o melhor lugar para ouvir música eletrônica, existem vários djs e a facilidade que os instrumentos que ele usa, dão a ele enquanto músico, por que a partir do momento em que você tem uma platéia, e você toca, altera e transforma essa música para essas pessoas você É um músico. Um músico tradicional, um grande maestro pode dizer que eu estou dizendo uma grande heresia, mas eu posso ser um músico, como eu sou, e escrever uma partitura e fazê-la tocar, eu não sei se eu sou um grande músico, eu gosto das músicas que eu faço, e até as ouço de vez em quando, mas a minha capacidade de concatenar notas e faze-las funcionar como uma melodia, me torna um músico, hoje, é possivel escrever uma sinfonia, sem saber tocar qualquer instrumento, se ela é boa ou ruim vai de quem a criou.

Dizer que aquilo não é musica é como dizer que qualquer um que escreve no computador não é um escritor, o que importa é a forma como eu expresso meus sentimentos através das palavras. Posso me valer de um corretor gramatical, e brigar com ele, pq eu sou o mestre de errar periodos, ou de alterar periodos dentro de regras que eu conheço, muitas vezes como essa ( em que vc cede um pouco do seu tempo as coisas que saem da minha cabeça ) uma merda do caralho...Mas é na medida do possivel coerente. Eu conheço muita gente que num tem a manha de ler um livro, mas que lê uns 3 ou quatro blogs SEMPRE, eu posso considera-lo um leitor de meia tijela? Eu encho o saco, pq eu quero que todo mundo leia o que é bom, mas eu num posso desmerecer quem está vivo hoje, quem produz hoje, com as ferramentas que nos são dadas hoje. E parece que não, mas é exatamente disso que nós estamos falando.

Por que a liberdade artistica da música eletrônica é o meu argumento aqui, uma rave, é um fechamento de um ciclo que foi quebrado a muito tempo, quando eu vejo os velhinhos em Goa, eu vejo que isso é o renascimento do festejo, por que o conceito de festa se desfez com a nossa sociedade, e eu pensei que eu poderia deixar de acreditar nela por isso, mas quando eu vejo o Dj marky fazendo uma platéia criar o baixo de um musica baseada em baixo, batendo os pés no chão, eu vejo que não. Que isso é uma forma de renascimento. É, até onde eu sei, a unica forma de criar uma festa participativa como uma festa deve ser, com cada cérebro querendo viver, e sentir a energia daquele momento, e participar ativamente dele, com mais de dez mil pessoas, uma coisa é uma musica que é como é sendo alterada com maestria pelos seus criadores, outra coisa é a beleza de um artista disponibilizar a sua musica, para que outros artistas as alterem livremente, ao vivo, como nas festas de candomblé onde quando um instrumentista cria uma batida nova, e outro instrumentista brinca com a batida do anterior, e a grande beleza da música é isso, além da seriedade de treinar várias horas por dia é a recompensa de poder, ali, brincar livremente com a sua obra e com a obra de outros, que aceitam que você use a música dele para o seu entretenimento, e o entretenimento de quem você quer entreter.

Você use o som que ele criou, a parte sagrada da música reside exatamente neste ponto, que é onde a musica sendo levada unicamente por sua habilidade de criar, ao vivo. E da vibe de todos os que estão ali sentindo o que ele tá sendindo, sendo empurrado pelo turbilhão de ritmos, tornando todas aquelas músicas de vários artistas diferentes, em uma coisa só uma musica só, que dura do momento em que ele para atrás das cdj's até as palmas no final de um grande set. Por que o set é do Dj, as músicas o reconhecimento também, mas todos estão cientes que a arte, esta sim, a arte pertence ao mundo...

E se existem trinta mil doidos pra ir até uma festa, que geralmente é longe, ouvir um cara tocando um monte de barulhinho esquisito, eventualmente usar drogas, pq rola sim, mas não é a base do movimento, para essas dez a vinte mil pessoas, que é o que numa festa grande se reune pra ouvir um live, se tem tanta gente pra dançar, gente inteligente, gente que entende de música, pode não entender quando entra, mas quando sai quer saber... É por um motivo só, por que nesse angu tem caroço. Senhoras e senhores...beijos a todos e obrigado pela fidelidade...mudei de endereço, mas voltei a ativa, nem dá mais pra saber quantos anos essa brincadeira tem...