sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Onírica

E meus olhos abriram-se acordando onde deveriam acordar.
As paredes aúreas, os mosaicos no solo, como sempre e como nunca.
A porta da casa desemboca em um mar de escamas alaranjadas.
Onde todas as mentiras faziam-se chagas sobre a pele de todos.
Em meio a paisagem dourada as almas puras regurgitavam plástico azul.
E as jovens esquartejadas chamavam-me ao sexo, junto ao acordar calmo da melancolia
Que vinha me seguindo num arrastar esquálido, lambendo meu pescoço com sua língua pálida.
Com meu choro veio o corar do ar melancólico.
Assistia-a ascender como um dragão de escamas alaranjadas de ferrugem.
Enquanto meus pés me empurravam para dentro do labirinto bizantino de paredes de ouro.
E minhas pernas infladas de ácido lático, imersas em sucos gástricos.
Corriam como um guepardo de pelos de cristal.
Pelas vias estreitas meus ombros debatiam-se contra quinas de metal dourado poroso.
Sentia o cheiro acre da bile que escorria acumulando-se no chão escorregadio.
E a voz em meio tom repetia como um mantra védico em meus ouvidos:
- Meu nome é Deus, e eu te odeio!
E saindo de minha forma felina, derrubando as paredes gástricas do destino.
Sentindo o vibrar de minhas pernas, e da voz que me seguia, parei num suspiro profundo.
Seguido do riso. E os olhos igneos do dragão enferrujado já queimavam minha pele.
Quando fez a gargalhada. E minha boca disse como um espasmo: Eu sou a estupidez que te ama.
Foi quando os olhos arredondaram-se e o medo fez em flama.
E então abri os olhos e o mundo em volta sorria como um canastrão.
Senti o cheiro dos corredores. E com bafo de noite maldormida.
Bradei ao dragão que me queima: Sou o espírito humano, o espírito estúpido. Faço do teu ódio amor. E de minha vida uma gota no teus oceanos.