sábado, 19 de fevereiro de 2011

Glee e felicidade.

Quando estava no ensino médio eu tinha um jargão “As pessoas se explicam demais.” Hoje o outro lado da moeda me parece mais importante: As pessoas entendem de menos. Algo sobre o sistema educacional, que talvez seja discutido outro dia. Will Schuester descobre-se subproduto disso. Casado há 22 anos com uma desconhecida, sua primeira namorada. Histérica como sua gravidez, empurra Mr. Shue para alguém com valores mais próximos dos seus. Iniciando-o na jornada por eles, sabendo apenas que algo o repele de sua mulher e o aproxima de outra pessoa louca, Emma, conselheira estudantil e obsessiva compulsiva.

Certo e errado é simplesmente muito amplo. Não é um sistema de premissas que nos leva a decisões concretas em relação à realidade. É simplesmente aceitar o que a maioria aceita. Certo acaba sendo por voto e sem razão. A maioria das pessoas não come merda por que o nariz é perto da boca. Willian vai descobrindo que a única oportunidade de encontrar um sistema de valores concretos é sentir-se de verdade, expressar-se. Como o jovem Kurt Hummel acaba descobrindo com seu pai (melhor personagem da série) a única coisa que as pessoas tem de si mesmas é a diferença. Tudo do que querem, irracionalmente, tolhe-los. Cada episódio vem para mostrar de forma caricata que nós andamos em círculos, planos mirabolantes que pioram (mais) as coisas, tentando ser iguais. Tentando um auto-aprimoramento (ou ajustamento) que só corresponde aos padrões. Quando o que importa é - a inovação - ser. O que é uma implicação direta sobre fazer, livre de pressões por resultados.Bom trabalho é prazeroso por ser bem feito. Ou vice-versa.

A personagem de Jane Lynch, Sue Sylvester (interpretada lindamente), mostra-nos exatamente isso. Ela conhece seus valores, e os negligencia deliberadamente, ela descobriu que as pessoas comeriam merda se o nariz não fosse próximo da boca, até oferece... Ela compreendeu que a maioria é ouvida, que existe um padrão de não-raciocinio. O melhor é o que está no topo do pódio. Um grande exemplo de que nós podemos acreditar em qualquer coisa. A melhor cena da primeira temporada, certamente, é o julgamento das Seletivas. Dizendo às gargalhadas que o único julgamento válido é o próprio, seus juízes não ligam para seus resultados. Logo, devemos nos preparar para ter impressões realistas de nós mesmos.

Eles ganharam alguns corações cantando sobre gente perdida ( inclusive o meu ). Notar-se perdido é uma derivação direta de questionar o próprio caminho, admitir a própria falibilidade. Um trem para qualquer lugar é uma simples admissão de que não estamos no lugar certo, qualquer lugar serve, já que este não é o meu. Ironicamente sendo derrotados por autômatos em uma lindíssima – cronometrada - apresentação sobre noções de realidade, três vivas para o Queen. Sem esquecer os criadores que jogam o paradoxo existencialista na nossa cara: Nada importa por sermos pequenos e tudo (em absoluto) vale a pena pela pequena bastarda. Uma tabula rasa que vai passar pelo que todos estes estão passando e ainda sim trazer esperança por ser todos os sonhos do mundo.

O que lembra a metáfora do buraco-negro. Seus sonhos – as coisas que te movem – te levarão a eles se você os deixar, caso contrário cada movimento será esquecer-se, prender-se e morrer. Ainda vivos estes zumbis vão matar cada sonho que se apresentar, para que possam esquecer um pouco mais. Sobram três personagens. Isso eu não sei explicar e é fácil de entender...


P.S.: Cortei um parágrafo para não rolar tanto spoiler.
Living glee and pretending, from your heart, may make you happy.