sexta-feira, 11 de abril de 2008

Quero

Quero, querer...
Quero mais um vicio, uma cama
Quero um hospicio, uma Chama
Eu quero(...)menos a mais...

(...)Aah!

Quero uma desgraça, uma ameaça, fumaça
Explosão, caos, desunião, formol, lençol, colchão, chão!
Quero nulidade, imaturidade, infestação
indiferença, descrença, desilusão, disparate
despertar, desalento, desatenção, disperção

Quero meu veneno, tudo mais quero...
Quero nada de "tudo de bom"!
Quero errar o tom, calar o som...
Quero música dissonante, quero mundo distante!

Quero ver padecer o sol...
Quero ver ruir a luz da lua...
Quero o frio de cada rua.
Quero tomar o mal, tragar o fel

Quero estar mais longe do céu
Quero estar mais perto da dor
Quero rasgar a chaga-mor
Quero usura, pecado, Morrer ao leo

Quero ser menos de mim
Quero ser longe, não ser assim
Quero o fio, de cobre, ou navalha...


Quero a honra, - negra Mortalha!-,

Quero tocar o ultimo galho,
Quero Cair d última folha,
Quero ser a gota de orvalho,
Chorar, se te fizer sorrir, CARALHO!

domingo, 6 de abril de 2008

Pedaço de outra carta...

Poha Nora, parece sacanagem quando eu penso que a gente já namorou, que eu te ouvi entre os sopros da gaita, ouvi você soluçar. Vi primeiro seus dedos roxos naquele sapato preto que você ama, depois seu cabelo escondendo metade das canelas. Esse mesmo sol de agora cruzando atrás de você mostrando algumas sombras de parabrisas dos carros nos estacionamento, e suas lágrimas brilhando nos degraus.

Claro que não consegui mais tocar. É uma puta sitação desconcertante quando a gente tem de passar por um lugar e tem alguem desconhecido chorando lá. Mordi os lábios meio de lado, fazendo cara de situação constrangedora, eu sempre faço, mesmo que ninguem vá ver... Andei pra um lado, e pro outro. Olhei você de novo, abraçada nos joelhos, com o queixo sobre eles, seus olhinhos vermelhos meio vesgos, achei terno, fiquei meio triste mesmo... Até você sorrir com uma expressão que só consigo ligar a frase ‘‘é foda, né?’’ entortando minha cabeça num meio sorriso, um “é...”. Pensei, né? Em perguntar alguma coisa, mas nem da pra perguntar nada nessas horas, uma guria que eu num conheço de camisa de dormir e sapato de festa, chorando na escada da lavanderia. Era melhor elogiar os sapatos, mas você tava provavelmente puta com tudo, sei lá o que eu pensei de você naquela hora... Fiquei te olhando de cabeça torta. Até você dizer rindo “E aí, como eu tô?” “Num parece bem, mas os sapatos são legais.” “É, tá apertando aqui” e apontou com o dedo, para o lado do dedão, onde tava roxo “Mas são os meus preferidos, acho que a gente tem que tar com algo que a gente goste quando tá triste” “É uma boa, nunca tinha pensado nisso, mas é uma boa.” “Eu sempre uso sapatos bonitos quando fico triste, a gente acaba olhando pros sapatos mesmo, quando tá pra baixo.” “É ficar pra baixo tem dessas de olhar pra baixo, cê quer subir pra tomar um café, e ver se volta a olhar pra frente?” “É, eu num tenho mesmo pra onde ir...”