quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carta de Aniversário.

Querida, desculpe-me essa absurda demora para escrever. Parece que o ópio desse mundo anda fazendo efeito. Nossa boa e velha capital baré é tão caricata, torna-se impossível não usar como exemplo para nossa morosidade global. Aqui na ilha de mato a internet é rápida como os nossos milhares de caramujos africanos, que são tão rápidos que não são pegos também. Nossas estradas são um mosaico de falácias, buracos, de operações tapa-buraco. Nosso transito uma guerra de egos. Nossa política uma amigável conversa entre havaianas roxas.

Parece avant garde chamar nossos políticos de “havaianas roxas” mas ser tão azul, tão vermelho e tão flexível é uma característica exclusiva de nossos governantes e de nossos chinelos tipo exportação. Parece reclamão dizer que nossas ruas são um mosaico, mas temos áreas em que as ruas são só tinta preta sobre o barro, e nos melhores casos uns bons recapeamentos (em bairros nobres é claro). Sobre a guerra de egos basta dizer que em nossas vias principais o objetivo não é chegar a qualquer lugar, sim ocupar um espaço na pista da esquerda, que perdeu seu significado de pista de velocidade para pista dos fodões, que na hora do rush ficam todos parados em seu espaço-destinado-a-macho(s)-alfa(que nem precisam ser machos.).

Quando vou a outras partes do país sempre sou perguntado, ao menos uma vez, se aqui caço e pesco para viver, se temos índios andando pela rua, se vou para a faculdade de canoa, se há animais silvestres pela rua. Aí penso “quem me dera.” Sempre acabo fazendo a linha paciente. Explico que a cidade é uma metrópole local, que toda a economia do norte do país esta ligada a nossa, que nós somos um pólo industrial e que já matamos os animais silvestres que andavam pela rua ( brincadeirinha! ou não...). Se fosse fazer o impaciente diria que é uma cidade de interior com a maior macrocefalia urbana já vista. Vivemos nossos dois milhões de habitantes como em uma cidadezinha. Rejeitando toda novidade como caboquice até virar moda, todo visionário como leso, que quer se aparicer, ou cabocão. A grande vergonha de ser cabocão deve ser viver em harmonia com seu meio ambiente, compreender a natureza, e conviver com ela, alimentar-se dela, realimentá-la com humanidade. Não é possível compreender o próprio meio ambiente em barelândia.

Parece algo simples essa coisa de entender o próprio meio ambiente, mas há sérias restrições quando tratamos de nossa capital. Desde os ternos de nossos queridos roxinhos. Numa cidade em que a temperatura média é de 30º C, terno? Até os habitantes das palafitas que não hesitam em jogar de sofá a merda nos rios onde vivem, nem em chorar cântaros enquanto esses chovem. Cântaros do céu? Dos olhos ou das almas? Mais perguntas sem resposta.

O mundo apresenta-se como um paradoxo, nossa decodificação não pode ficar muito longe de paranóia. Cada dia é um alimento para meu distúrbio de atenção. Abra a boca e feche os olhos. Abra os olhos e feche a boca. Coma lixo.
Enquanto em muitas capitais luta-se pelo passe-livre para os estudantes em Manaus nós temos que engolir 44 meias-passagens. E ao lutar pelas 120, não é tão difícil adivinhar “Olha a leseira baré! Já querem se aparicer” Em uma palavra é Tragicômico.

Uma amiga me disse, que o risível é uma inserção do impossível no possível. Agora vou sair de barétown for a while. A tal da crise que todo mundo insiste em dizer que é financeira gerou uma bolha de não-dinheiro tão grande que se tornou risível. Os números da AIDS na áfrica e a reação de vossa santidade também. A perpetuação de nossas boas e velhas máfias...digo... oligarquias regionais é risível. O fato de milhares de pessoas colocarem aheuaheuehu por vontade “própria” ahuaahauhau gordura da bunda aheueuehaueahea na boca aheuaheuheau é...sem comentários.

Nossa manacaos é o microcosmo mais bem acertado do mundo. Não seria exagero comparar nosso característico forró com todas as outras músicas de contradição sexual. Digo contradição sexual por que um pai deixa sua filha dançar ao som do hit “Agora que sou puta você quer me namorar” Mas se a filha dele tiver nuns amassos mais quentinhos com alguém aí é sacanagem, é nojeira e perversão, mas no creu ta todo mundo em casa.

O que me alivia de tudo isso é que existe outro conceito para a inserção do impossível no possível. Dá-se o nome de dádiva em teologia. Aqueles impossíveis mínimos do dia a dia, aquele pensamento que leva ao acontecimento. Esse fio que puxa meu peito pro teu. A capacidade de auto-transcendência. Que encontra suas condições ideais de expressão nessa situação indescritível que é a atual vida na terra. Nossas ações racionais tomaram tons tão irracionais que é risível e se é risível, finalmente, é visível.

“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano.”



Para: Nóia

amo plus plus plus.

Parabéns!!!

2 comentários:

Quimerus disse...

Gente! Tava morrendo de saudade desse formato.

Se eu conseguir um computador hoje a noite acho digno um porre on-line.

*=

Nóia disse...

Porra





Só agora encontrei isso.

Amei. E te amo. E tô com saudades, porque você desaparece. E porque eu tô aqui tb, né. Aliás, acho absurdamente necessário arranjarmos um jeito de te trazer aqui tb. Preciso te ligar. Vou tentar não adiar muito.
Mais uma vez, with feeling, te amo.


=]